4° - Tina, sua própria dona

Cruéque - Porta bate e chave cai; ela chegou.

Empurrando as coisas do chão pra fora do caminho, com sua sandália de salto alto e fino, largou as sacolas na mesa e casaco no sofá. Despiou-se parcialmente e ligou a TV: Novela das 8 que começa depois das 9... Deixou a TV ligada, mas foi fazer outras coisas pela casa. Guardou coisas perecíveis, já pegando seu iogurte e pedaço de pizza da noite passada. Estava com fome.

Betina, sabida como Tina, é uma grande mulher. Tem seus conceitos, suas crenças, e nada à faz mudar, à não ser que ela queira mudar.

Naquela noite lanchou rapidamente, tomou um banho e foi para algum canto da cidade. Suas paixões? Uma delas era a noite de Porto Alegre.

3° - O retardado

Sempre tem um que avacalha, sempre tem um pra rir. Diogo - vulgo Digo - faz os dois.

Digo não pega ninguém, mas pega todas. A Flávia foi mais uma das que ele não ficou, só que essa história de não pegar ninguém começou a irritá-lo. Cansou de levar "não" e "não" na cara.

Flávia não deu nenhum motivo pra ser avacalhada. Disse um "não" normal, mas na visão masculina jovem isso toma proporções enormes.

Ele foi e fez.

Não teve trabalho em tirar fotos dela trocando de roupa no banheiro, criar um perfil especial pra isso no Orkut e, finalmente, mostrá-la pra todo mundo. Vai entender uma mente dessas...

Ele fez.

2º - Rebeca

Tsssii, fez o cigarro dela. Rebeca começou à fumar há algum tempo, e começou como boa parte dos adolescentes começam: por curiosidade, ou pra dar a sua pagada. Ela começou pelos dois.

Rebeca não tinha saco pra mais uma aula de matemática, ela jamais conseguiria aprender logarítimos. Então, dando razão ao tsssii, apagou seu cigarro e foi na biblioteca entregar um livro, pra depois ir na sala do JP.

Mais interessante que usar allstar, fumar e matar aula era estar perto do JP... Aquele cara estranho e quieto fascinava Rebeca. E ele... Bom, ele nada.

_Oi, JP... *.*

_Oi.

Arrastando seus allstar's ela chegou, e de cara - depois de olhar fixamente para JP - notou o movimento de uns otários em frente ao pc.

_JP, que merda é essa de que eles riem tanto?

1° - Whatahell é JP?

_João Pedro, acorda que já tá na sua hora, hein.

_Levanta, seu vagabundo! - passa o pai pelo pela cama do filho chutando as coisas.

Era assim o seu acordar. Mãe cuidadosa, pai sem noção. Era assim.

Num mp3 quase não funcionando, tocava Scars, do Papa Roach. JP saia cedo do dia com sua mochila surrada para o xerox da sala de informática do colégio no qual trabalhava. JP nunca foi de falar muito, nunca foi de viver muito. JP, na verdade, não sabia o que queria.

No colégio todos se viam, se cumprimentavam, mas ninguém se conhecia. Ele era o cara do xerox, o cara que te dá a ficha pra assinar a permissão dos pc's, o cara que te dizia em qual período você estava. JP respondia. Era um entra e sai sem controle, você poderia matar aula e ir usar os pc's no JP... Ele não seria X9: JP não ouve, não vê.

Numa manhã de quinta-feira, JP recebeu uns 4 alunos apressados que exigiam um pc. Como sempre, JP apenas alcançou a ficha e continuou organizando suas apostilas xerocadas com seu olhar baixo. Os alunos entraram no Orkut e começaram a gargalhar, mas gargalhar de um jeito... Como se a mais eficaz piada tivesse sido contada, como se nada importasse além de rir daquilo. Aí JP não teve como perceber, pois não é surdo nem otário.

Ao se afasterem um pouco do pc, os alunos "felizes" deixaram uma brecha em frente à tela de tamanho suficiente para JP tomar conhecimento do ocorrido... Não era piada, não era nada engraçado pro JP: Eram fotos da garota mais linda do mundo - para JP - trocando de roupa no banheiro.